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Identidade

Itiberê Zwarg & Grupo
Discos: Jazz

Available now

34,18 € c/ imposto

Ficha técnica Discos

Selo Delira Música
Estilo Jazz
Original Ano Edição 2012
Instrumental

Mais informações

Aos 62 anos, Itiberê Zwarg nada quatro vezes por semana na Praia de Copacabana. O esporte é um raro espaço de solidão na vida do maestro. Mesmo assim, Itiberê não fala dele como momento de estar só.
— É um contato com o mar — define. — Você sai dali bem para fazer as coisas da alma.
"Contato" e "coisas da alma" — dois pontos centrais da música de Itiberê. Contato é seu modus operandi. É bastante ilustrativo que sua carreira "solo" tenha se iniciado à frente de uma formação de 30 músicos, num grupo que carregava a ideia de família no nome — Itiberê Orquestra Família, que estreou em 2001, no CD "Pedra do Espia", saudada como um sopro de renovação na música instrumental brasileira. Da mesma forma, não é por acaso que suas oficinas na Pro-Arte e, agora, na Maracatu Brasil se tornaram um espaço de liberdade de criação celebrado — e disputado — ao longo da última década, sobretudo por jovens instrumentistas. E que seu recém-lançado CD "Identidade" (Delira Música), o primeiro com o octeto Itiberê Zwarg & Grupo, marque sua personalidade a partir de músicas dedicadas a pessoas e situações determinantes em sua trajetória. Música para Itiberê, portanto, é relação — o que fica evidente quando ele fala sobre o papel de um solista:
— O meu conceito de solo é diferente do do jazz. A cozinha (músicos que sustentam a base da banda) não está lá para fazer groove para o solista. Ela costura o solo com ele, todos improvisam juntos. O solista universal (discípulo de Hermeto Pascoal e baixista de sua banda há 30 anos, Itiberê segue o conceito de "música universal" criado pelo mestre) está tocando e ouvindo ao mesmo tempo. Ouvir é fundamental. Desenvolvi essa antena em bailes, como músico da noite, tocando com gente como Laércio de Freitas e Tenório Jr.
Peladeiro regular, Itiberê transporta para o campo a filosofia que aplica à música. E usa o esporte para falar da arte:
— Jogo como toco música — diz, sem esconder um certo orgulho e acrescentando que, como na música, divide espaço "com moleques de 20 e poucos" — A individualidade sai do coletivo, e não o contrário. O Barcelona de hoje ou times históricos do Flamengo, do Santos, do Botafogo eram assim. Todos jogavam para o time, e a individualidade se sobressaía naturalmente. Você vê o Hermeto, por exemplo. É o cara mais coletivo que conheço. E isso não impede que ele seja o Hermeto.
O mestre albino o conheceu em São Paulo — Itiberê é da capital, mas foi criado no interior, em Itanhaém.
— Fui gravar um negócio lá e meu baixista não pôde ir — lembra Hermeto. — Aí, me sugeriram o Itiberê, conversamos um pouco, ele sentou ao piano, já deu para perceber a concepção harmônica dele. Vi que ele era bom. Hoje, tenho poucos adjetivos para falar dele. É especial, tudo o que quiser fazer na música, ele consegue. Deus o deixou aqui numa noite de lua cheia e disse: "Vai, a música é teu caminho."
Ensaios diários por 12 anos
Itiberê recorda, rindo, o mesmo dia do primeiro encontro:
— Sentei-me ao piano para me amostrar para ele. E ele sabia.
Deu certo. Algum tempo depois, Hermeto precisou de um novo baixista em definitivo. Convidado, Itiberê largou tudo o que estava fazendo (bailes, o trabalho como músico de estúdio), uma situação financeira estável, para seguir algo maior. As tais "coisas da alma" às quais ele se referia ao falar da natação.
— Vim para não olhar para trás. Entro de cabeça em tudo o que faço, nunca pela metade.
A filha, Mariana Zwarg — ela e seu irmão Ajurinã, frutos do casamento de Itiberê com Helena Cândida, tocavam com o pai na extinta Itiberê Orquestra Família e hoje seguem no Itiberê Zwarg & Grupo — confirma que as prioridades do maestro sempre foram bem marcadas.
— Desde que comecei a entender o que ele falava, tenho a lembrança de ouvi-lo ensinando a mim e ao meu irmão que devemos seguir o coração, persistir, nunca pôr o dinheiro na frente — diz Mariana. — Lembro que pedíamos para comprar algo e ele falava que não dava. E explicava: "Seu pai está plantando uma coisa muito importante."
Com esse espírito, Itiberê veio para o Rio, para a mítica casa em Jabour, na Zona Oeste, onde Hermeto morava. Ali, pôde entrar de cabeça em algo e pôr à prova a persistência que ensinava em casa. Com apenas três dias para aprender as músicas antes de fazer seu primeiro show com a banda, Itiberê virou noites. Depois, mergulhou na escola hermetiana, numa inacreditável rotina de ensaios diários, das 14h às 20h, entre 1981 e 1993.
— Graças a esse tempo consegui me preparar para meu trabalho solo — avalia Itiberê.
Foi Hermeto quem o avisou, em 1998, que ele estava pronto para tocar um projeto próprio. Sem saber ao certo o que fazer, decidiu montar sua oficina de música universal. Compondo ao vivo — método que segue até hoje — com um grupo de jovens músicos, completamente envolvidos com sua proposta, Itiberê plantava sem saber as sementes da Itiberê Orquestra Família.
— Nessa época, tive uma experiência péssima com uma big band que montei para um trabalho em São Paulo — conta Itiberê — Eram músicos que tocavam só com partitura. Apertavam as chaves do instrumento e sopravam. Isso para mim não é tocar. Pensei que tinha do meu lado aqueles músicos novos nas oficinas e perguntei a eles: "Vocês querem ser meus colegas?" Aí montei a Orquestra Família.
A relação de Itiberê com a música — e a vida, afinal ele não estabelece fronteiras entre uma e outra — se mostra claramente na forma como vê as partituras:
— Leitura não é música — define. — Quando eu era criança, meu pai (o compositor Antônio Bruno Zwarg) me pôs para estudar piano, e o professor queria me ensinar aquelas bolinhas. E eu queria tocar. Não sou contra a partitura, mas ela é apenas um registro, uma fotografia. Ninguém que toca comigo decora improviso.
‘Personalidade forte e generosa’
O fim da Itiberê Orquestra Família traz a marca de suas convicções. O maestro alega que alguns integrantes, quando começaram a tocar em outros projetos, passaram a trazer influências para o grupo estranhas às diretrizes traçadas por ele. A incompatibilidade gerou o racha ("Eu vou para cá, quem não quiser vir junto não vem"). Questionado se vê em sua postura traços de autoritarismo, Itiberê diz com segurança que não.
— A música é minha religião, meu contato com Deus — afirma o maestro, cuja teologia se afina com o espiritismo. — Tomo conta dela como um zelador: "Quer entrar? O que quer aqui?"
A violoncelista Maria Clara Valle, uma das dissidentes, se refere à separação como natural, "um ciclo que acabou quando vários músicos, que começaram ali muito jovens, passaram a ter outros anseios". A ruptura não deixou mágoas ("Todos mantêm relações com ele").
— Itiberê tem personalidade forte, mas é de uma generosidade absurda — diz Maria Clara. — Houve um período em que estive muito doente e ele me acolheu em sua casa. Um dia, eu estava passando muito mal, com a cabeça confusa, e ele falou: "Vamos tocar." Ficamos das 22h às 3h da manhã, e ele compôs a música "Choro da Maria". Aquilo me ajudou muito.
A sensibilidade — musical e humana, novamente sem diferenças — é um traço de Itiberê destacado também por sua namorada, a psicóloga e escritora Maria Tereza Maldonado:
— Conheci-o como aluna. Foi impactante vê-lo compor ao vivo para todos os instrumentos, dentro da capacidade de cada músico. É uma enorme habilidade de escuta — conta Maria Tereza, que aponta essa sensibilidade também em gestos do cotidiano. — Jantamos sempre à luz de velas, preparamos juntos nossa comida, com um requinte estético. Ele valoriza esses pequenos prazeres sensoriais, o contato com a natureza. Aprendi com ele a diferenciar o canto dos pássaros.
Itiberê fala da relação com Maria Tereza com uma frase que poderia defini-lo — ao unir lúdico e sofisticado, sabedoria e vigor.
— Parecemos garotos — diz, antes de fazer uma pausa e sorrir: — Mas não somos.
POR LEONARDO LICHOTE 28/07/2012 7:00 / atualizado 28/07/2012

Themes

CD 1
01
Identidade - Parte I
Itiberê Zwarg
02
Quem entender morre
Itiberê Zwarg
03
Na casa do Can
Itiberê Zwarg
04
No sarau da Laurinda
Itiberê Zwarg
05
Na careca do padre
Itiberê Zwarg
06
Alameda dos Sorimãns 150
Itiberê Zwarg
07
Na teia do aconchego
Itiberê Zwarg
08
Forró das Arábias
Itiberê Zwarg
09
Passaporte
Itiberê Zwarg
10
Identidade - Parte II
Itiberê Zwarg
11
Bontempo
Itiberê Zwarg
12
Atravessando fronteiras
Itiberê Zwarg
13
Bem vindos todos juntos na pindaíba!
Hermeto Pascoal
14
Vida leve
Itiberê Zwarg
15
Identidade - Parte III
Itiberê Zwarg
16
Diamantino
Itiberê Zwarg
17
Galopada
Itiberê Zwarg
18
Pro Lucas
Itiberê Zwarg