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Vaia de bêbado não vale

Tom Zé
Discos: Bossa nova

Disponible

18,49 € impuestos inc.

Ficha técnica Discos

Sello Trama
Estilo Bossa nova
Año de Edición Original 1999
Observaciones CD Single

Más

Tom Zé (voz)

Ronie (teclado), Heraldo do Monte (guitarra acústica), Edr Sandoli (guitarra eléctrica), Renato Anesi o Sérgio Caetano (cavaquinho), Gilberto Assis (bajo), Lauro Lellis (batería), Marcos Suzano (percusión).

A raíz de lo acontecido en la inauguración del CrediCard Hall de São Paulo el 29 de septiembre de 1999, el insólito músico bahiano Antônio José Santana Martins, conocido como Tom Zé, decidió grabar y editar este apasionado -pero muy consciente- manifiesto en favor/honor de la Bossa nova, con ya 40 años de historia.
Aunque la base de la canción ya existia desde 1992 y estuvo a punto de ser lanzada, quedó finalmente descartada del álbum "The hips of tradition - The return of Tom Zé" que supuso el renacimiento musical del artista.
Siete años después, el famoso encontronazo de João Gilberto con el público -que el propio Tom Zé presenció en directo- inspiró la versión y el título definitivos de la canción y su solemne edición en formato de single, que incluye además de la canción con letra y música, una (excelente) versión instrumental, la versión demo de 1992 y, en el encarte, dos textos de Tom Zé -uno, de 1959, ensalzando el nuevo estilo musical y otro, del momento de la presente edición, reivindicando la Bossa nova frente al Tropicalismo (estilo al que siempre se asoció a Tom Zé). Incluye además una pequeña bibliografía aconsejada.

"Soa como provocação, mas Tom Zé diz que se trata apenas de "uma reportagem não-opinativa". O cantor baiano Antônio José Santana Martins, 63 anos completados na semana passada, acaba de gravar "Vaia de Bêbado Não Vale", música que tem por inspiração o recente concerto de João Gilberto e Caetano Veloso no Credicard Hall, de São Paulo.
O show do último dia 29, difícil esquecer, começou festivo e terminou em anticlímax. Nasceu para coroar a inauguração da "maior casa de espetáculos da América Latina". Tropeçou, porém, no perfeccionismo de João. O violonista, um dos pais da bossa nova, rejeitou impiedosamente a acústica do lugar. Reclamou do eco que assaltava o palco e, em troca, ganhou apupos de parte dos 4.500 vips que assistiam à apresentação.
Tom Zé estava lá -recebera um convite de Caetano. "Como testemunha ocular dos fatos", resolveu contar o que viu, à moda "de um jornalista", mas "um jornalista que canta".
A "música-reportagem", com três minutos e meio de duração, chegará às lojas até o fim do mês. A gravadora Trama vai lançá-la, em três versões, num single que levará o mesmo nome da canção. E a canção -embora o sarcasmo do autor insista em qualificá-la de "apartidária e objetiva, como os melhores jornais do ramo"- nega-se à imparcialidade.
Reproduz, sim, frases que João Gilberto atirou contra o público indócil ("tem que fazer direito, tem que fazer Brasil"; "vaia de bêbado não vale"; "sou argentino desde pequenininho"). Mas a transcrição serve menos à tarefa documental e mais à defesa do ídolo atacado.
Não bastasse, o encarte que deverá acompanhar o disco contém uma espécie de manifesto antitropicalista. No texto, batizado de "Imprensa Cantada", Tom Zé desfia elogios à bossa nova e estranha a influência que o tropicalismo exerce ainda hoje sobre a cultura do país. Questiona, em resumo, o explosivo movimento de que ele próprio participou, com Caetano e Gilberto Gil, três décadas atrás.
A historiografia musical brasileira costuma apontar o ano de 1958 como o marco zero da bossa nova. A expressão se refere a um grupo de jovens que, no Rio de Janeiro, alterou a maneira tradicional de tocar samba. Admiradores do jazz, abraçaram uma batida particular de violão e o canto mais intimista, mais contido.
Entre os músicos que promoveram a renovação, João Gilberto e Tom Jobim logo ganharam fama internacional. Também desempenharam papel importante no período Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Nara Leão e o poeta Vinicius de Moraes.
A fase de maior repercussão da bossa nova se encerrou em 1963. Quatro anos depois, eclodiu o tropicalismo, "um movimento que veio para acabar com todos os outros movimentos", como pregavam seus artífices.
Durou 14 meses -de outubro de 1967 a dezembro de 1968. Anárquico, promoveu a fusão da MPB com o rock, o pop internacional e os ritmos latinos.
Rejeitou o nacionalismo da esquerda e das canções de protesto, aderiu à guitarra elétrica, propôs mudanças comportamentais e procurou cantar os paradoxos do país: a convivência entre o arcaico e o moderno, entre o erudito e a cultura de massas.
Mesmo durando pouco, norteou artistas que só iriam aparecer nas décadas posteriores, como Novos Baianos, Alceu Valença, Chico Science e Chico César.
Os dois principais líderes tropicalistas, Gil e Caetano, sempre manifestaram reverência às revoluções trazidas pelo violão e pela voz de João. Começaram, por sinal, tocando bossa nova.
Tom Zé, não. Nunca se apresentou como bossa-novista. Desde antes do tropicalismo, fazia canções que não se enquadravam em nenhum dos modelos predominantes na época -caso de "Maria do Colégio da Bahia" e "São Benedito", ambas de 1965.
Surpreende, portanto, que agora decida lançar um manifesto pró-bossa nova (manifesto, aliás, é palavra que Tom Zé evita; não a usa nem no encarte nem na canção do single).
Outra surpresa: o CD aparece justamente quando a imprensa e os críticos musicais dos EUA e da Inglaterra estão descobrindo o tropicalismo. E quando Caetano atinge vendagens recordes com a canção "Sozinho", de Peninha, valendo-se de artifício que adotara durante o período tropicalista -reler uma obra identificada originalmente como brega.
Em "Vaia de Bêbado Não Vale" e no manifesto, Tom Zé alardeia o que estudiosos do assunto vêm falando há tempos: que a bossa nova "pariu o Brasil" moderno, que "criou realmente um gênero", e que o tropicalismo não teve papel tão nobre, tão "aprofundado", uma vez que se apoiou principalmente na intervenção crítica e na assimilação de produtos artísticos já existentes.
Por que, então, reacender o debate? Por que retomar o tema um tanto "retrô" se o próprio Tom Zé é apontado dentro e fora do país como um "sujeito de vanguarda"?
"Na roça onde nasci, lá no interior da Bahia", recorda o cantor, "costumavam repetir um provérbio: "Pais trabalhadores, filhos burgueses, netos degenerados"."
"Então veja: os pais trabalhadores são João Gilberto e Tom Jobim. Os filhos burgueses somos nós, tropicalistas, que nascemos enriquecidos pela bossa nova. E o neto degenerado é o hall do eco e do álcool; são aqueles que, iludidos pelo pai mercado, viram as costas para a riqueza estética da vida e dos avós."
Mais Tom Zé não diz. Ele sempre foi homem de alegorias." Armando Antenore (Folha de S.Paulo, 20.10.1999)

Temas

CD 1
01
Vaia de bêbado não vale
Tom Zé - Vicente Barreto
02
Vaia de bêbado não vale
Tom Zé - Vicente Barreto
03
No dia em que a bossa - nova pariu o Brasil
Tom Zé - Vicente Barreto