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Brizzi do Brasil

Aldo Brizzi* & Convidados
Discos: MPB

Disponible

14,95 € impuestos inc.

Ficha técnica Discos

Sello Eldorado
Estilo MPB
Año de Edición Original 2002

Más

Aldo Brizzi (teclados, electrónica, programaciones, samplers, arreglos, producción)

Francesco Santucci (flauta), Daniel Kientzy (saxo contrabajo), Domingos Elias (clarinete), Thomas Rohrer (rabeca), Zuzdana Varkony (acordeón), Roberto Belelli (teclados, sintetizador, percusión, programaciones), Manuel Paulo y Vincenzo Bacciero (piano), Pape Gurioli (piano eléctrico) Mario Ulloa (guitarra acústica), Alex Mesquita (guitarras), Francesco Sardella (guitarra eléctrica, electrónica), Sérgio Caetano o Zé Nabo (guitarra eléctrica), Paulo Lepetit o Luciano Calazans o Cid Campos o Gilberto Assis (bajo eléctrico), Corrado Canonici (contrabajo), Lauro Lelis (batería), Luizinho do Gêge, Michelle Abu y Greg & Rudson (percusión, programaciones), Lactomia (percusiones, con arreglos y dirección de Jair), Grupo do Bairro da Paz (sampler de percusión, con arreglo de Laurinho Richard), Maurizio Barbetti (viola), Anna Maria Rizzi (coros).

Participación especial de: Arnaldo Antunes (voz), Augusto de Campos (voz), Caetano Veloso (voz), Carlinhos Brown (voz, percusión), Gilberto Gil (voz, guitarra acústica), Margareth Menezes (voz), Nuno Guerreiro (voz), Olodum (percusión), Teresa Salgueiro (voz), Tom Zé, Virginia Rodrigues (voz) y Zeca Baleiro (voz, guitarra acústica), Ala dos Namorados (Nuno Guerreiro (voz), Manuel Paulo (piano) y João Gil (guitarra acústica)).

Edición original brasileña (el disco fue reeditado en Italia en 2004 con diferente portada)

"As minhas especulações em torno da música de invenção e a minha devoção ao compositor Giacinto Scelsi, sobre o qual já escrevi mais de uma vez para este jornal, me levaram a conhecer o compositor e regente italiano Aldo Brizzi, numa de suas vindas ao Brasil e a São Paulo para participar do Festival Música Nova.
Quando entramos em contato, em 1992, movidos pela solidariedade da confraria scelsiana, eu não imaginava que ele viesse a se ligar por tantos elos à nossa cultura e ao nosso país.
Ainda muito jovem, falando um português corrente e revelando total ausência de preconceitos em relação à música popular, apesar da sólida formação erudita, Aldo me impressionou desde logo pela capacidade de articular e sintetizar a complexidade das linguagens musicais com radicalismo e rigor nesta quadra inquietante, ao mesmo tempo crepuscular e preambular, de entre-séculos. Que a "brisa do Brasil" o tenha tocado intelectual e emocionalmente tão fundo, até ao nível pessoal, a ponto de vir a casar-se com uma brasileira, é algo que se pode considerar um acaso afortunado para nós.
Nascido em 1960, em Alessandria, no norte da Itália, Aldo estudou piano, viola e teoria musical no Conservatório de Milão, direção de orquestra com, entre outros, Boulez e Celibidache e composição com Radulescu e Ferneyhough. Datam de 1982 os seus primeiros contatos com Scelsi, do qual foi assíduo frequentador e amigo. Em seu amplo currículo de regência musical se inclui a direção do Grupo de Câmara dos Cursos de Férias de Darmstadt e do Akanthos Ensemble. Suas obras têm sido executadas por prestigiosas orquestras e conjuntos como os Ensembles InterContemporain, 2E2 e Köln. É membro da Fundação Isabela Scelsi de Roma, cidade onde hoje reside.
Aos 38 anos, sua bagagem musical já é significativa. Como regente, tem participação em pelo menos dois itens obrigatórios no repertório das obras de Scelsi: a composição "Khoom" para soprano e seis instrumentos, com a soprano Michiko Hirayama, o percussionista Maurizio Ben Omar e o Quarteto Arditti, acoplada à integral dos Quartetos para Cordas (Salaberb/ Harmonia Mundi, 1990), destaque da revista "Le Monde Musical" como um dos melhores lançamentos discográficos do ano, e o CD "Giacinto Scelsi", produzido na França sob o patrocínio do INA -Institut National Audiovisuel- e da editora Salabert, em 1993, um disco primoroso (prêmio "Diapason d'Or"), que inclui peças inéditas e trechos de uma das raras entrevistas de Scelsi, concedida á Radio-France, em 1987; uma emoção particular, ouvir na voz do enigmático mestre: "... Le son est sphérique, est rond... toute chose qui est sphérique a um centre... il faut arriver au coeur du son, à ce centre... alors on est musicien, sinon on est artisan..." (O som é esférico, é redondo... toda coisa que é esférica tem um centro... é preciso chegar ao coração do som, a esse centro... só então se é um músico, e não um artesão...).
Como compositor, Aldo se inscreve entre os músicos da chamada corrente "espectral", que, tendo Scelsi como um dos seus maiores mentores, explora as virtualidades do "som" considerado em seus componentes físicos, com ênfase nos harmônicos superiores (agenciadores das dissonâncias microinterválicas) e na timbrística. Mas não é um ortodoxo, na medida em que seus interesses musicais se revelam amplos e acolhedores ao influxo das melodias e ritmos populares ou folclóricos, interesses que, no entanto, têm a ver com a natureza material do som, sem qualquer compromisso com exotismos ou afirmações regionalistas.
Pode-se aquilatar o nível da sua criação musical, que se inicia em fins dos anos 70, pelas obras que já apareceram nos CDs de dois virtuoses, Maurizio Barbieri (viola) e Daniel Kentzy (saxofone) em 1994 e 1996 e, mais ainda, no primeiro CD integralmente dedicado a Brizzi, "The Labyrinth Trial" (A Prova do Labirinto), lançado neste ano (Multisale Ariston). No disco de Barbieri, que reúne composições de autores do calibre de Scelsi, Sciarrino, Donatoni e Feldman, ele comparece com "Canto sulla Lontananza" (Canto sobre a Distância), de 1982, composição constituída, segundo o autor, de "tremulações poéticas no limite da percepção e feita exclusivamente de harmonias em ambíguo equilíbrio entre som e ruído".
Será lícito pensar, aqui, numa reflexão crítica premonitória, sintetizando os caminhos paralelos de Scelsi e de Nono -o Nono da última fase, que, alguns anos mais tarde, entre 1988-89, faria, por sua vez, da distância o tema central da notável composição "La Lontananza Nostálgica Utópica Futura". Com o título "Pur Sax", o disco de Daniel Kientzy utiliza apenas o som do saxofone, melhor dizendo, de toda a família dos saxofones. Kientzy, autor de um dos mais completos tratados sobre o instrumento, "Saxologie", é o único executante no mundo que toca todos os sete saxofones, do sopranino ao sax-baixo (dois metros de altura e cinco de tubulação); vale-se ainda de novos recursos tecnológicos -gravadores cujos canais multiplicam as linhas melódicas e ampliam ainda mais as potencialidades sonoras do saxofone.
Brizzi aqui está representado por "Miha-sefer", megamontagem para complexas emissões dos saxofones em gigantescos contrastes e confrontos de massas sonoras, peça na qual o crítico Robin Freeman vislumbra o influxo de efeitos de "impasto" como os usados por John Coltrane num território fertilizado pelas sugestões do universo expressivo de Giacinto Scelsi. Sente-se já que a concepção musical de Brizzi vai assumindo uma nova dialética: a amplitude de suas perquirições o leva a sondagens metalinguísticas e de intercomunicação não-ortodoxa de linguagens que o projetam em inéditas situações criativas.
Mas penso que é no primeiro disco solo, "A Prova do Labirinto", que se evidencia ainda mais a personalidade musical de Brizzi. Nele se reúnem seis composições.
A primeira, "L'Épreuve du Labyrinthe" (para viola e fita magnética), acabou sugerindo o título do disco, sendo a expressão derivada de uma autobiografia de Mircea Eliade; conforme esclarece o compositor, o "tape" consiste apenas de sons pré-gravados de vila (a viola clássica, da família dos violinos), superpostos a fragmentos rítmicos de música popular brasileira, retrabalhados por diferentes filtros digitais. Uma batucada para violas, exploradas nos registros mais graves e agudos, que muda surpreendentemente as expectativas timbrística e rítmica, metamorfoseando o estardalhaço nítido e regular das batidas convencionais num cavernoso e compassado ressoar anímico e espectral, de acentuação dramática, perturbado por arritmias e deslocamentos timbrísticos nascidos do confronto entre a viola ao vivo e em "tape".
O que avulta nas composições de Brizzi é a nova respiração que elas vêm trazer à chamada "música espectral"
"Nochecita", para três vibrafones e três maracas, se baseia em transcrições de ritmos originais de rumbas e cha-cha-chás justapostos num diálogo de sonoridades contrastantes: o "melos" vibratório da percussão metálica, escaliforme, entrecortado pelo som-silêncio, o sussurro seco das cabaças percutidas.
"Tardecita" (para dois violões), 1995, foi, como esclarece o autor, inspirada pela música afro-brasileira (do grupo Timbalada), cujos ritmos foram transpostos, mas recombinados sob a perspectiva de uma multiperiodicidade, com interpenetração de células rítmicas, ataques e pulsos diversificados, gerando harmonias imprevistas.
Em "El Olvido, El Futuro", para viola, fita magnética e eletrônica ao vivo, os sons da fita foram sampleados e reprocessados a partir de extratos da música popular afro-latino-americana. Sobre esses sons a viola desenha uma melodia pregnante, descontínua, atravessada por inflexões rítmicas em camadas sobrepostas, ora em martelamentos intensos, ora como que telegrafadas numa morsificação dos toques percussivos. Há cinco linhas musicais tocadas ao mesmo tempo em diferentes velocidades e com seus timbres constantemente alterados. As transcrições compreendem, além de música popular afro-cubana, oriunda de práticas religiosas, a seção rítmica de "Badauê", um afoxé de Caetano Veloso (do disco "A Outra Banda da Terra").
"Orphée", para flauta, viola, harpa e violão (1995), amplia as pesquisas de "Tardecita" no sentido de alterar e enriquecer a percepção musical com frequentes deslocamentos dos parâmetros sonoros. Sobre células extraídas do material rítmico da bossa-nova, desenvolvidas na harpa e no violão a partir dos harmônicos superiores de um único som fundamental, Brizzi faz infletir uma melodia sincopada tocada pela flauta, criando uma delicada trama de tensões e distensões sonoras.
O disco termina com a versão solo do "tape" da primeira peça, "L'Épreuve du Labirinthe", aqui como que radiografada estruturalmente em poderosas pulsações.
Não deixa de ser curioso apontar na gama de interesses de Aldo Brizzi, na medida em que esta se relaciona com a música da Bahia e com as explorações microtonais, a convergência com certas pesquisas de Walter Smetak, o compositor suíço-baiano cuja ideologia é, tanto pela radicalidade microintervalar de suas obras como pela exploratória de sonoridades novas, a que mais se aproxima, entre nós, da de Scelsi.
A propósito de suas experiências com o violão, em entrevista recente, afirma Brizzi que, nos últimos anos, conviveu com novas maneiras de trabalhar o instrumento, ligadas acima de tudo ao modo de tocar a música brasileira e muito distintas das dos europeus. Refere-se especialmente a João Gilberto, que considera "um grande revolucionário do instrumento, pelo seu modo de conceber e combinar os ritmos complexos, utilizando acordes de posição, com um clima particular e com automatismos extraordinários". E enfatiza: "Seria preciso de qualquer forma considerar, ter presente essa experiência; não se pode fingir que ela não existiu. Aquilo que Jimi Hendrix fez com a guitarra elétrica, João Gilberto o fez com o violão acústico, introduzindo aquele seu estilo particularmente sutil e refinado".
Em outro passo de sua entrevista, explicitando o seu interesse pelas culturas extra-européias, Brizzi acentua o seu intento de compreender como outras culturas são capazes de conduzir o som, de maneira quase "shamânica", em direção a novas energias (alude especificamente aos pigmeus africanos "aka", a grupos de percussão afro-brasileiros, ao gamelão de Java ou Bali ou à música de certas regiões do norte da Índia). Não se trata de copiar ou meramente incorporar essas linguagens, mas de entender os processos que as formam e de procurar centros de energia ainda não utilizados.
O que avulta nas composições de Brizzi é a nova respiração que elas vêm trazer à chamada "música espectral", na originalíssima reciclagem da música percussiva afro-latina de que se alimentam. Ao assim proceder, ele não tende a folclorizar-se, antes a desfolclorizar essas criações espontâneas da arte popular e, extraindo-as dos contextos de entretenimento que tendem à normatização e à fórmula, redinamizá-las na área das perquirições livres. Aqui, não agrilhoados pelas imposições da comunicabilidade imediata, os ritmos e andamentos podem despadronizar-se, ousar a descontinuidade e a superposição; de outra parte, é possível energizar o discurso erudito e cerebral com o "duende" das criações primais e buscar o "eidos" sonoro -não os estereótipos, mas os arquétipos e protótipos da experiência musical, no que ela tem de mais universal, de menos compartimentado e paroquialista.
Se essa não é, seguramente, a função da música popular, que tem os seus próprios veios de inseminação e nutrição cultural, preenchendo com arte de impacto emotivo e sensorial as carências comunitárias de catarse e convívio, é certamente a missão do músico de invenção, quando, com outro distanciamento, tem em vista a expansão do conhecimento, a mudança e a retroalimentação de hábitos e modelos em prol de uma libertação e um aprofundamento do saber e das vivências humanas.
Bem-vindo, Aldo Brizzi, que "a brisa do Brasil" deslumbra, mas não dobra. Sua música difícil mas amorosa, despreconcebida, mas não feita "para vender e vender depressa", há de ser muito útil para abrir os nossos ouvidos a novas e necessárias descobertas desabridas." Augusto de Campos (poeta, traductor y ensayista) (Folha de Sao Paulo, 13.09.1998)


Temas

CD 1
01
Meninas de programa
Aldo Brizzi
Gilberto Gil
03:52
02
Mistério de Afrodite
Aldo Brizzi
Teresa Salgueiro & Caetano Veloso
06:38
03
Exílio
Aldo Brizzi - Zeca Baleiro
Zeca Baleiro & Aldo Brizzi
03:45
04
Cat's 
Aldo Brizzi
Virgínia Rodrigues & Aldo Brizzi
04:26
05
O amor
Aldo Brizzi - Francisco Serrano
Margareth Menezes & Arnaldo Antunes
04:02
06
Toi
Aldo Brizzi - Barbara Toy
Carlinhos Brown & Aldo Brizzi
03:44
07
Ondas
Aldo Brizzi - Tuzé de Abreu
Teresa Salgueiro & Zeca Baleiro
03:48
08
Ão
Aldo Brizzi - Augusto de Campos
Caetano Veloso & Augusto de Campos
03:41
09
Velada ou revelada
Aldo Brizzi - Francisco Serrano
Virgínia Rodrigues, Nuno Guerreiro & Olodum
05:13
10
Abraça o meu abraço
Aldo Brizzi - Arnaldo Antunes
Arnaldo Antunes & Aldo Brizzi
03:32
11
Down, down, down
Aldo Brizzi - Francisco Serrano
Tom Zé
04:07
12
Este era un gato
Aldo Brizzi - Francisco Serrano
Ala dos Namorados
03:39