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Barra pesada - Ao vivo nos anos 70 (Box)

MPB-4
Discos: MPB

Disponible

59,90 € impuestos inc.

Ficha técnica Discos

Sello Discobertas
Estilo MPB
Año de Edición Original 2019
Concierto
Observaciones 5CDs

Más

Caja que incluye los discos inéditos hasta el momento, grabados "ao vivo": "República do Peru" (1973), "Rua República do Peru" (1974), "República de Ugunga" (1975), "Recital" (1976) y "MPB4 no Safari" (1976), producida por el investigador musical Marcelo Fróes. Cada disco incluye un encarte con textos y la reproducción de las letras, fundamentales para la comprensión del tema de cada espectáculo. Además del enorme valor histórico de estas grabaciones, la caja deja para la posteridad el vigor musical con el que el grupo salía al escenario en el auge de su carrera.

"Em 3 de outubro de 1973, o grupo fluminense MPB4 subiu ao palco do Teatro Fonte da Saudade, na cidade do Rio de Janeiro, e estreou o show República do Peru. Com intencional duplo sentido, o título do show aludia tanto ao Brasil dos anos de chumbo quanto à rua do bairro carioca de Copacabana onde estava situado o pequeno apartamento alugado por Aquiles Reis, Milton Santos (o Miltinho), Ruy Faria (1937 – 2018) e Antônio José Waghabi Filho (1942 – 2013) – o cantor e arranjador vocal conhecido como Magro – para não terem que voltar de madrugada para Niterói (RJ), cidade natal do quarteto.
O show República do Peru seria importante na trajetória desse grupo cujas origens remontam ao ano de 1962. Afinal, pela primeira vez em anos, o MPB4 estaria em cena sem a presença de Chico Buarque, quase um quinto cantor do grupo.
Só que a temporada de um mês do show República do Peru acabou frustrada e encurtada. Não pela alta qualidade artística do espetáculo, mas pela ação da censura do governo militar que asfixiava o Brasil naquele ano de 1973. Atenta aos sinais políticos do repertório selecionado por um grupo sempre situado à esquerda, a censura proibiu o show na segunda semana da temporada.
O show República do Peru foi apresentado somente sete vezes. Tempo suficiente, no entanto, para que fosse feita uma gravação ao vivo do espetáculo. Com boa qualidade técnica, esse registro chega ao mercado fonográfico 46 anos após a estreia no primeiro dos cinco CDs da excepcional caixa Barra pesada – MPB4 ao vivo nos anos 70.
Parte expressiva da produção da música brasileira foi registrada nas vozes emblemáticas do MPB4, harmonizadas com requinte por Magro em arranjos que valorizavam músicas como O crime (Jards Macalé e José Carlos Capinam, 1969), um dos 20 números do bem amarrado roteiro de República do Peru, montado pelos integrantes do quarteto com Chico Buarque e com Antonio Pedro, diretor do show.
Coerente com a ideologia social de um grupo que jamais se calou, o MPB4 levantou a voz nesse show através de músicas como O velho (Chico Buarque, 1968) e o samba Depois que tá ruim chegou nunca mais melhorou (Capoeira, 1971) – recados do quarteto sobre a ditadura em vigor no Brasil na época do show.
Tanto que o segundo samba tinha o título citado sagazmente ao fim de outros números, como os sambas A velhice da porta bandeira (Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro, 1973) e Última forma (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1972).
O maroto caco "Tem boi na linha" inserido no Partido alto (Chico Buarque, 1972), cantado com ginga, também sublinhava a mensagem do show.
O encadeamento no roteiro de Pois é, pra que? (Sidney Miller, 1968), Pesadelo (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, 1972) e Beco do Mota (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1972) – música repleta de dissonâncias espertas ao fim do número – adensam o clima e o show para dizer através da música o que era preciso ser dito.

Parafraseando versos lapidares de Pesadelo, a censura cortava um show do MPB4 e o grupo fazia outro. A propósito, o show apresentado no segundo dos cinco CDs da caixa, Rua República do Peru (1974), simboliza essa resistência.
Trata-se de versão remodelada do show anterior, com a entrada de músicas como Sinal fechado (Paulinho da Viola, 1969) e Não existe pecado ao sul do Equador (Chico Buarque e Ruy Guerra, 1973), e com o título modificado para Rua República do Peru para explicitar a citação do logradouro de Copacabana e acabar com o duplo sentido do nome.
Com roteiro novamente assinado pelo MPB4 com Chico Buarque e com o diretor Antonio Pedro, o show Rua República do Peru estreou em junho de 1974 no Teatro da Galeria, no Rio de Janeiro (RJ), onde cumpriu temporada até novembro sob a vigilância da censura.
Felizmente, essa censura surda aos apelos democráticos fechou os ouvidos para a crítica ácida feita por Chico Buarque – então sob o pseudônimo de Julinho da Adelaide – à política econômica do governo em Milagre brasileiro, uma das músicas deste show de 1974 em que o MPB4 mostrou que jamais seria calado.

Terceiro título na cronologia dos cinco álbuns, o CD República de Ugunga (1975) – MPB4 ao vivo apresenta o registro inédito do show feito pelo grupo fluminense MPB4 ao longo de cinco meses de temporada que encheu cotidianamente o Teatro Fonte da Saudade, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), entre junho e novembro de 1975.
Na comparação com o politizado show anterior, o espetáculo República de Ugunga soa ligeiramente menos coeso por se agigantar somente na segunda metade, apagando a impressão de um meio morno.
De todo modo, a inédita gravação ao vivo –resultante da captação feita em 20 de junho de 1975– flagra o grupo com pleno vigor artístico. A questão é que o roteiro –embora montado pelo grupo com Chico Buarque, Ruy Guerra e Antonio Pedro (diretor do show)– tem menor poder de sedução no início, mas ganha progressiva força e sentido político até o arremate sensível com Prelúdio (Raul Seixas, 1974).
Parte desse roteiro foi construído com músicas do repertório do então último álbum do quarteto, Palhaços e reis (1974), disco no qual o MPB4 teve a primazia de lançar Guinga como compositor ao gravar duas músicas deste gênio da música brasileira.
Uma delas, Conversa com o coração (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1974), está no roteiro –com um dos mais belos arranjos vocais do show– ao lado de outras composições do álbum, casos de Nosso mal (Miltinho e Maurício Tapajós, 1974), Mordaça (Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro, 1974) e Condição (Noca da Portela e Barbosa de Freitas, 1974), além de Palhaços e reis (1974), parceria de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza que deu título ao LP lançado pelo quarteto naquele ano de 1974.
São músicas de bom nível, mas que soam menos marcantes no conjunto da oba do MPB4 –como o tempo ratificaria. Tanto que, pela audição do CD, o show soa bem mais envolvente na segunda parte e quando os cantores dão vozes a músicas do amigo Chico Buarque, de quem, entre outras composições, o MPB4 revive Roda viva (1968) e canta a então recente Vai trabalhar, vagabundo (1973), composta e gravada por Chico para a trilha sonora do filme homônimo de Hugo Carvana (1937 – 2014).
Na segunda metade dos 19 números do show, há momentos sobressalentes como No cordão da saideira (Edu Lobo, 1967), Copo vazio (1974) – densa canção de Gilberto Gil lançada por Chico naquele ano de 1974 – e, sobretudo, Samba do ziriguidum (Jadir de Castro e Luiz Bittencourt, 1962), joia do sambalanço que o MPB4 lustra com malabarismos vocais que atestam o sagaz senso rítmico dos integrantes do quarteto.
O registro inédito do show República de Ugunga –originalmente intitulado Ugunga, República Monarquista do Quarto Mundo, nome vetado pela censura pelo do sentido político do título – documenta o MPB4 na efervescência criativa da década de 1970, sob a barra pesada da censura, driblada pelo grupo nesse show com uma simples pergunta ("Vem cá, onde é que anda essa tal de liberdade?") inserida como caco na introdução do Samba da pergunta (Carlos Pingarrilho e Marcos Vasconcellos, 1966).
Esse caco dá insuspeito duplo sentido aos versos desse samba viajante cantada pelo grupo com bossa, leveza, afinação precisa e consciência social. Pela sagacidade do caco e do link esperto com a tristonha (mas esperançosa) canção seguinte, a então inédita Assim seja, amém (Miltinho e Gonzaguinha, 1975), o registro do Samba da Pergunta já vale por si só a edição do álbum República de Ugunga (1975) – MPB4 ao vivo.

"O nosso enredo tem uma força tal / Que já pôs medo no cordão rival", sinalizou o MPB4 através de versos do samba Agora é Portela 74 (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, 1974), uma das 21 músicas do roteiro de Recital, show apresentado pelo quarteto fluminense entre janeiro e fevereiro de 1976, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Quarto título na cronologia dos cinco álbuns, Recital (1976) – MPB4 ao vivo descende diretamente do disco anterior República de Ugunga (1975) – MPB4 ao vivo.
É que Recital é a versão remodelada, para atender aos desmandos da censura do governo da época, do show anterior República de Ugunga – Histórias de um país que sumiu do mapa, apresentado em 1975 com grande sucesso pelo grupo.
A intenção inicial era tão somente continuar a temporada do show de 1975, desta vez no Teatro Glória. Só que, após a anterior temporada de cinco meses no Teatro Fonte da Saudade, o show foi proibido em todo o território nacional.
Formado em direito, Ruy Faria foi então com Aquiles a Brasília (DF) para negociar a liberação do show com um diretor da censura federal. Ficou acertado que, para ser liberado para voltar à cena, o show teria que ser reduzido drasticamente, inclusive com a supressão das falas do grupo. Mesmo assim, a aprovação formal nunca veio.
Diante do impasse, o MPB4 fez jus a dois dos versos do samba Cordão (Chico Buarque, 1971) – "Ninguém vai me acorrentar / Enquanto eu puder cantar" – e criou Recital. Nessa versão do show, o repertório era similar ao do espetáculo anterior, mas incorporava músicas como a então novíssima Gota d'água (Chico Buarque, 1975). Só que as novas falas eram intencionalmente impostadas, demasiadamente formais, para denunciar a censura.
Recorrente no roteiro, a citação instrumental de Passaredo (Francis Hime e Chico Buarque, 1975) – música lançada pelo próprio MPB4 no álbum 10 anos depois (1975) – justamente quando a letra dizia "Muito cuidado / Que o homem vem aí" – reforçava o recado.

Título menos relevante dentre os cinco álbuns, Safári (1976) MPB4 ao vivo tem menor peso no conjunto dessas gravações inéditas por se tratar de show derivado de outros censurados espetáculos do quarteto fluminense MPB4.
Como lembra Marcelo Fróes no sucinto texto que escreveu para o encarte deste quinto e último disco da caixa, MPB4 no safári foi show criado às pressas em fevereiro de 1976 e aprovado pelos censores em março daquele mesmo ano.
Apresentado pelo grupo em circuito universitário que percorreu o Brasil, o show é perpetuado em disco na gravação ao vivo feita em Niterói (RJ), cidade natal do MPB4, quando Safári saiu de cena após breve temporada no Teatro Leopoldo Fróes, feita de 2 a 5 de dezembro daquele ano de 1976.
A questão é que expressiva parte dos números musicais do roteiro de MPB4 no safári é herdada do proibido show República de Ugunga – Histórias de um país que sumiu do mapa, espetáculo de 1975 que, por ter sido censurado, já originara um outro show improvisado para driblar a censura, Recital, apresentado pelo MPB4 entre janeiro e fevereiro de 1976.
O tempero novo do Safári foram as piadas inseridas entre as músicas – recurso de humor que descontentou alguns críticos. Mesmo soando redundante, a gravação ao vivo do show, perpetuada no CD Safári (1976) MPB4 ao vivo, tem alto valor documental. Até por registrar o fim do ciclo de shows roteirizados pelo grupo com Chico Buarque, Antonio Pedro e Ruy Guerra.
Para 1977, o quarteto mexeu no time e preparou show com roteiro de Aldir Blanc e Claudio Eduardo Novaes, dando sequência a uma brilhante trajetória nos palcos que, além de ter sido importante do ponto de vista musical, contribuiu para denunciar, na medida do (im)possível, o que se passava no Brasil dos anos 1970. A barra era pesada, mas o MPB4 jamais aliviou o trabalho deplorável da censura, elevando a voz para denunciar através da música o que se passava nas entranhas do país."  Mauro Ferreira (g1.globo.com)