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Fantasia leiga para um rio seco

Elomar
Discos: MPB Nordeste

Próximamente disponible

20,38 € impuestos inc.

Ficha técnica Discos

Sello Independiente
Estilo MPB Nordeste
Año de Edición Original 1981

Más

Elomar (voz, guitarra acústica)

Orquesta Sinfônica da Bahia, con arreglos y dirección de Lindenbergue Cardoso.

Grabado en el Auditório do Centro de Convenç4oes da Bahia, en Salvador (Bahia), en diciembre de 1980.

Reedición en CD, 2016, del disco lanzado originalmente en 1981 por el sello Rio do Gavião. Remasterizado, con portada, contraportada y ficha técnica originales.

"Poema narrativo orquestrado, Fantasia leiga para um rio seco - composição sertaneja de Elomar Figueira Mello, autor da letra e música, cantor e violonista - conta pela voz intimista e fortemente dramática de um cantor-narrador em primeira pessoa, no tempo presente, uma história acontecida que se incorporou à tradição oral do Nordeste - a seca do Noventinha, ou, como também ficou conhecida, a Fome do Noventinha, que devastou sete estados da região em 1890, deixando como nunca antes rastro igual de morte e destruição.
É essa tradição oral uma das vertentes que inspira o imaginário poético de Fantasia. A inspiração aqui nasce dos causos ouvidos pelo autor desde a infância na casa dos pais, que por sua vez ouviram dos seus, e estes dos seus, os relatos da saga do catingueiro retirante em sua solitária
caminhada na esperança de alcançar a Mata-Cipó ou as plantações de cacau e fumo do sul da Bahia, onde, pelo que se sabia, ainda restava um pouco de vida.
Fantasia tinha no violão o seu instrumento original, mas certamente mostrou-se pobre para emprestar à peça toda a dramaticidade que o tema pedia. Daí talvez ter Elomar entregue o arranjo a Lindenbergue Cardoso, compositor erudito, que abriu o acorde do violão para orquestra sinfônica, à
qual foram acrescentados um coral misto e um acordeon. Embora a orquestra seja a sinfônica tradicional, a orquestração não é rica, majestosa, como a que caracteriza uma sinfônica. É discreta, cumprindo uma função de apoio: sublinha o tema do poema, dá eco à voz do solista e
desenha o pano de fundo do quadro narrado - o do retirante da catinga do Rio Gavião, assolada por uma seca e por uma fome que chibateou e ceifou milhares de vidas catingueiras.

Fantasia inicia com a Abertura, só orquestrada, abrindo com dois ou três acordes de violão que se ampliam para a orquestra em dois episódios1
que se alternam e se justapõem com pequenas variações. O primeiro, sugerindo uma atmosfera pesada, dada principalmente pelas cordas, num
ritmo arrastado e de sonoridade áspera, parece descrever a aridez e a devastação deixadas pelo Noventinha, o que cria uma imagem de morte e
desolação, imagem que permeia todos os cantos e que domina toda a composição. O segundo, de sonoridade bem mais leve, mas de ritmo mais
ágil, marcado por instrumentos de sopro, resulta na impressão, evidentemente subjetiva, do caminhar contínuo e solitário do catingueiro retirante sob um sol abrasante. Nada apoteótica esta abertura que, como tal, introduz o clima da obra.
À Abertura segue-se Incelença pra terra que o sol matou, em que o catingueiro descreve o quadro da seca como se a estivesse presenciando. E
isso explica-se: o cantor ao cantar a seca do Noventinha está a cantar a seca que já se anuncia em 1980, ano da composição, e que ameaça novamente os sete estados do sertão. E o narrador sabe que mais um tempo apocalíptico virá.
Em Tirana (2º canto), o catingueiro decide pela retirada e começa a narrar a sua lenta e penosa caminhada, levando a dor de uma saudade tirana:
da terra, da mulher e do filho mortos. Decisão não só dolorosa como trágica: ele sabe que sai "prú vai-num-torna prá num voltá mais aqui/ in terra istranha e morrê longe do sertão", sabe que "todos qui fôro num voltaro tão nos ceus".
Em Parcela, o canto seguinte, o retirante se debate em conflito: culpa-se por estar "abaldonano as patra do sertão" mas quer uma chance de
vida. Tenta aplacar sua consciência e a angústia da quase certeza do que Parcela vaticina: "do vai-num torna num se volta não".
O 4º canto, Contra-Dança, é só orquestrado, e o último, Amarração, quase que exclusivamente orquestrado, é o epílogo da narrativa com a morte
do catingueiro, sugerida na letra por apenas um refrão que se repete de quando em quando: "Cadê os pé do imbuzêro/ qui flora todo ano/ nas baxada e nas vereda mana mia/ cadê os pé d'imbu meu mano/ adeus pé dos imbuzêro". Moribundo, o retirante chega ao fim da jornada - a sonhada zona da Mata-Cipó. Só, exausto, de arrasto, "nú e cum fome quemano meus pé no chão", como diz Tirana, ele tomba. Como ele bem sabia, do "vai-num-torna num se volta não". Os que não foram morreram, mais "u'a ossada fulorano o chão" (Incelença) ressecado pelo "sol da má sorte/rei da tribusana", como dizem ainda os versos do mesmo canto. (...)

A obra é inovadora e original desde o título. Fantasia, segundo dicionários especializados, é uma "peça musical em que o compositor, pondo de parte os aspectos formais da construção clássica, deixa simplesmente atuar a fantasia da sua imaginação", é uma "composição em que o autor se subtrai livremente às regras formais da construção clássica", uma "peça instrumental não de forma prescrita, mas de livre exteriorização". Sendo essa a concepção da obra, justifica-se a Fantasia do título. E leiga porque profana e popular, conforme a definição do termo: "do povo, pelo povo. Que ou aquele que não tem ordens sacras. Laical".
São esses os elementos que marcam o estilo do poema da seca da catinga do rio Gavião, o rio seco que acaba o título.
Assim, Fantasia leiga para um rio seco anuncia uma peça formalmente livre, inventiva, de caráter narrativo-musical e laico.
Responsáveis por tal natureza são as duas vertentes, onde se abebera o imaginário do poema, e o arranjo. De um lado, a tradição oral e o texto bíblico que, embora respeitado em seu pensamento sagrado, profana-se aos sair das Escrituras para incoporar-se à cultura regional nordestina; de outro, o arranjo, que, se introduz na música regional um tratamento altamente sofisticado com o recurso da sinfônica, caipiriza a orquestração ao acrescentar-lhe instrumentos populares (...)" Bina Friedman Maltz (Extracto de la tesis: "Fantasia leiga para um rio seco: Uma leitura poético-musical", Universidade Federal do Rio Grade do Sul)

Temas

CD 1
01
Incelença pra terra que o sol matou (Abertura)
Elomar
02
Tirana
Elomar
03
Parcelada
Elomar
04
Contradança
Elomar
05
Amarração
Elomar