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É isto que o povo quer - Tião Carreiro em solos de viola caipira

ContinenTrio
Discos: Caipira

Disponible

18,49 € impuestos inc.

Ficha técnica Discos

Sello Continental / East West
Estilo Caipira
Año de Edición Original 1976
Instrumental

Más

Tião Carreiro (viola caipira, voz)

Primera edición en CD, de 2000, del disco lanzado originalmente en 1976 por el sello Chantecler.

"O músico João Paulo do Amaral Pinto (à direita), autor da dissertação, com o professor José Roberto Zan, orientador: análises etnomusicais e transcrição de partituras (Foto: Antoninho Perri)O universo sertanejo brasileiro abriga muitas lendas. Uma das mais conhecidas conta que se o violeiro quiser se transformar num virtuose do instrumento, ele precisará passar uma cobra coral viva por entre os dedos das mãos. Tião Carreiro, nome consagrado da música caipira nacional, certamente jamais colocou a vida em risco para obter tal habilidade. Ainda assim, assumiu a condição de instrumentista vigoroso e original, cuja técnica marcou época e influenciou as gerações seguintes. “A partir do trabalho de Tião Carreiro, a viola passou a ser olhada como um instrumento de grande potencial”, afirma o músico e pesquisador João Paulo do Amaral Pinto, que investigou o tema em sua dissertação de mestrado, apresentada no Instituto de Artes (IA) da Unicamp.
Ao longo da carreira, Tião Carreiro, que nasceu José Dias Nunes, gravou cerca de 80 discos, alguns deles em 78 rpms. Em sua pesquisa, porém, João Paulo concentrou-se em duas obras totalmente instrumentais: É isso o que o povo quer (1976) e Tião Carreiro em solo de viola caipira (1979). “Escolhi os dois álbuns porque o foco do meu estudo era justamente a forma como esse artista tocava a viola. Ambos servem para ilustrar as técnicas utilizadas por ele”, explica. Autodidata, o instrumentista, que também era cantor e compositor, apresentava algumas peculiaridades, conforme o pesquisador. A mistura de toques de viola e elementos musicais relacionados à catira e ao recortado, duas danças caipiras tradicionais, deu origem a um novo gênero, que ficou conhecido como pagode caipira ou simplesmente pagode.
João Paulo adverte que não é possível afirmar que Tião Carreiro tenha sido o único criador do pagode, visto que outros artistas faziam experimentações similares na mesma época. “Entretanto, ele contribuiu decisivamente para desenvolver, popularizar e consolidar o gênero”, assegura. Aqui, faz-se necessário um esclarecimento. Tanto o pagode caipira quanto o pagode vinculado ao samba designam reunião ou festa informal, na qual a música ocupa lugar de destaque. No entanto, o primeiro tem características próprias. No meio sertanejo, conta o autor da dissertação, a expressão tornou-se conhecida a partir da gravação, pelo próprio Tião Carreiro, da música Pagode em Brasília, em 1960.
Reprodução de capas de discos de Tião Carreiro: polirritmia incomum na música caipira (Fotos: Reprodução)O toque de Tião Carreiro, reforça João Paulo, apresenta certo grau de sofisticação, sobretudo por conta da movimentação das mãos. Esse aspecto, associado à rítmica do violão, que faz parceria com a viola, estabeleceu uma polirritmia até então incomum na cena da música caipira. “O trabalho feito por Tião Carreiro pode ser considerado como um pequeno divisor de águas dentro do universo da viola”, sustenta o pesquisador. O pagode, prossegue o autor da dissertação, de certa forma favorecia a virtuosidade do artista, que fazia solos rápidos e empregava técnicas como o pizzicato, que pode ser traduzido como o ato de tocar as cordas do instrumento de forma semi-abafada, obtendo um timbre mais silencioso e percursivo. “É bem possível que Tião Carreiro sequer conhecesse esses termos técnicos, visto que ele era essencialmente intuitivo”, infere.
Graças ao seu talento e habilidade, o violeiro passou a ser conhecido como o “rei do pagode”, título que foi devidamente explorado pela indústria fonográfica. O legado deixado por Tião Carreiro, conforme João Paulo, estende-se até os dias atuais. “Da década de 80 em diante, praticamente todos os violeiros admitem que foram influenciados por ele. Artistas como Vinícius Alves, Rodrigo Matos e Almir Sater fazem parte dessa lista. Até mesmo os integrantes do movimento que ficou classificado como ‘sertanejo romântico’ rendem homenagens a Tião Carreiro. O cantor Daniel, que fazia dupla com João Paulo, gravou recentemente um disco dedicado integralmente a Tião Carreiro. Daniel costuma dizer que sofre influência até mesmo do modo do ídolo cantar, visto que ele que tinha uma voz bem grave. Em outras palavras, Tião Carreiro é uma espécie de reserva de tradição, que muitas vezes é utilizada por alguns artistas para legitimar suas obras”, analisa.
Para desenvolver a dissertação, João Paulo mapeou o segmento da música sertaneja instrumental brasileira, partindo dos primeiros registros da indústria fonográfica. Para realizar a análise musical, ele pesquisou gêneros como a moda de viola, a guarânia, o rasqueado, a polca paraguaia, além das danças já mencionadas. Durante o trabalho, ele esmiuçou elementos como os toques da viola, as batidas do violão, o comportamento da percussão etc. “Além disso, eu me apoiei em teóricos que analisam a música em geral, mas tive que adaptar os métodos e conceitos à música popular, mais especificamente à música caipira. Também entrevistei vários violeiros para buscar maior número de dados para fundamentar minha análise”, esclarece.
Trabalho de músico – Para o orientador da dissertação, professor José Roberto Zan, a pesquisa desenvolvida por João Paulo reveste-se de importância por inserir-se no campo dos estudos sobre música popular, objeto que vem crescendo em relevância dentro da academia. “O trabalho também tem valor porque se aproxima das análises etnomusicais, que procuram compreender a música popular dentro de configurações culturais mais específicas. No Brasil, essa experiência ainda é nova”, pontua. Ademais, acrescenta o docente, o estudo chama a atenção para a importância de Tião Carreiro na formação de vários instrumentistas que se dedicaram à viola, transformando-a em elemento com grande potencial no campo da música instrumental. “Correndo o risco de uma comparação apressada, a viola de Tião Carreiro equivale à guitarra do blues. Ou seja, guardadas as proporções, a figura de Tião Carreiro se aproxima da figura mitológica de Robert Johnson”, diz.
Outro mérito da dissertação, na opinião do professor Zan, é o fato de ela trazer uma espécie de anexo, no qual João Paulo transcreve todas as músicas de um dos discos analisados, visto que as partituras jamais haviam sido publicadas anteriormente. “Esse trabalho somente pôde ser feito porque o João Paulo também é músico e violeiro. Ele teve que ouvir cada música para depois transcrever em partituras”, destaca o orientador. Ainda sobre a obra de Tião Carreiro, talvez seja recomendável concluir este texto com os versos de A viola e o violeiro, da qual ele foi co-autor: “Tem gente que não gosta da classe de violeiro/No braço desta viola defendo meus companheiro/Pra destruir nossa classe tem que matar primeiro/Mesmo assim, depois de morto eu atrapaio/Morre um homem, fica a fama, e minha fama dá trabaio”. Nada mais profético.
Tião Carreiro nasceu José Dias Nunes, em 1934, em Catuti, hoje Monte Azul, distrito de Montes Claros, em Minas Gerais. Começou a trabalhar ainda criança na roça, para ajudar a família. Aos 10 anos, mudou-se com os pais para o interior de São Paulo em busca de melhores condições de vida. Iniciou a carreira artística em 1956, quando gravou o primeiro disco (em 78 rpms) ao lado do seu principal parceiro, Antônio Henrique de Lima, o Pardinho. Tião Carreiro conquistou grande projeção no meio sertanejo como cantor e compositor e influenciou diversas gerações de violeiros e músicos. Ainda hoje, vários artistas lhe rendem homenagens.
Autor e intérprete de clássicos da música sertaneja como Rio de Lágrimas e Pagode em Brasília, gravou cerca de 50 LPs e 30 discos de 78 rpms ao longo de sua carreira. Tais registros foram relançados em CDs que ainda hoje alcançam números consideráveis de vendagem. A partir do panorama massificado do segmento classificado como “sertanejo romântico”, consolidado pós anos 90, sua obra passou a ser identificada e reconhecida como música sertaneja de “raiz”, representando uma espécie de reserva de tradições da antiga música caipira. Tião Carreiro morreu em 1993." Manuel Alves Filho  (Jornal da Unicamp)

Temas

CD 1
01
Seleção de pagodes nº 1: Tudo serve / Baiano no Côco / Nove e nove / Pagode do Alá
Tião Carreiro - Moacir dos Santos / Moacir dos Santos - Vaqueirinho / Tião Carreiro - Lourival dos Santos - Teddy Vieira / Carreirinho - Oscar Tirola
02:09
02
Ferreirinha na viola
Tradicional (Adapt. Francisco Nepomuceno de Oliveira ''Chico'')
02:09
03
O menino da porteira
Teddy Vieira - Luisinho
02:06
04
Seleção de pagodes nº 2: Faca que não corta / Rei sem coroa / Rancho dos ipês / Pagode na praça / Sete flechas
Tião Carreiro - Lourival dos Santos - Moacir dos Santos / Tião Carreiro - Sebastião Victor / Tião Carreiro - Lourival dos Santos / Jorge Paulo - Moacir dos Santos / Zé Mineiro - Lourival dos Santos - Tião Carreiro
01:59
05
Viola chic chic
Tião Carreiro - Lourival dos Santos - Zelão
02:12
06
Seleção de pagodes nº 3: Em tempo de avanço / Fim da picada / É isto que o povo quer
Lourival dos Santos - Tião Carreiro / Tião Carreiro - Lourival dos Santos / Tião Carreiro - Lourival dos Santos - Zé Mineiro
03:27
07
Viola que vale ouro
Tião Carreiro - Lourival dos Santos - Alberto Calçada
03:20
08
Seleção de pagodes nº 4: Pagode em Brasília / Bandeira branca / Tudo certo / Linha de frente / Tem e não tem
Teddy Vieira - Lourival dos Santos / Tião Carreiro - Lourival dos Santos / Tião carreiro - Moacir dos Santos / Lourival dos Santos - Edgard de Souza / Tião carreiro - Moacir dos Santos
01:58
09
Canoeiro
Zé Carreiro
02:36
10
Rio de lágrimas (Rio de Piracicaba)
Tião Carreiro - Piraci - Lourival dos Santos
02:55
11
Cabelo loiro
Tião Carreiro - Zé Bonito
02:01
12
Seleção de pagodes nº 5: Futura família / Empreitada perigosa / Riquezas do Brasil / Chora viola
Tião Carreiro - Dino Franco / Moacir dos Santos - Jacózinho / Tião Carreiro - Tapuã / Tião Carreiro - Lourival dos Santos
01:55