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Canto de rainhas - O poder das mulheres que escreveram a história do samba

Leonardo Bruno
Libros: Música

Disponible

34,50 € impuestos inc.

Ficha técnica Libros

Editorial Agir
Estilo Música
Año de Edición Original 2021

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416 páginas (16 x 23 cm, ilustrado) (Peso: 554 g)

"Canto de rainhas: o poder das mulheres que escreveram a história do samba, do jornalista Leonardo Bruno, reúne histórias de grandes mulheres que se dedicaram a esse gênero musical, romperam as barreiras do machismo e do racismo tão entranhadas entre nós até hoje e conquistaram definitivamente o público. Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes, Dona Ivone Lara e Elza Soares são as cinco protagonistas escolhidas pelo autor para representar um alfabeto inteiro de sambistas, como Tia Ciata, Clementina de Jesus, Leci Brandão, Elizeth Cardoso, Teresa Cristina, Mart’nália, Mariene de Castro e muitas outras. Ao acompanhar as trajetórias dessas artistas extraordinárias, o autor constrói um panorama da música brasileira nas últimas décadas e das conquistas das mulheres na área."

"Um dos maiores conhecedores da história do samba e do Carnaval carioca, o jornalista e roteirista Leonardo Bruno alinha no livro Canto de rainhas – O poder das mulheres que escreveram a história do samba perfis biográficos de cinco cantoras associadas ao samba.
O traço de originalidade da narrativa reside no enfoque do autor. Bruno mostra como Alcione, Beth Carvalho (5 de maio de 1946 – 30 de abril de 2019), Clara Nunes (12 de agosto de 1942 – 2 de abril de 1983), Dona Ivone Lara (13 de abril de 1922 – 16 de abril de 2018) e Elza Soares tiveram que driblar o império masculino da sociedade – modelo patriarcal reproduzido no território do samba – em muitos momentos das respectivas trajetórias pessoais e profissionais para se fazerem ouvir na vida e na música. Esse recorte valoriza o livro, uma vez que já existem biografias de Clara, Dona Ivone e Elza na bibliografia musical nacional.
A luta de Ivone Lara para se impor como compositora nas quadras e terreiros a partir da década de 1940 já é notória e talvez seja o símbolo maior da batalha feminina enfrentada cotidianamente por essas cinco bravas mulheres em sociedade machista e racista.
Aliás, o título do livro, alude ao nome do samba Canto de rainha, composto por Arlindo Cruz e Sombrinha para saudar Ivone Lara e gravado originalmente por Beth Carvalho no álbum Coração feliz (1984).
Aberto com conversa imaginária entre as cinco protagonistas do livro, papo escrito a partir de trechos de entrevistas das artistas, o livro Canto de rainhas segue com texto que historia brevemente os legados de mulheres que as precederam na música brasileira – com ênfase na invisibilidade dada ao papel da baiana Hilária Batista de Almeida (1854 – 1924) como criadora do samba que brotou na cidade do Rio de Janeiro (RJ) nos anos 1910 – e com sucinto ensaio sobre os pontos em comuns nas trajetórias guerreiras dessas cantoras que formam o ABCDE da narrativa.
Somente então Leonardo Bruno começa a perfilar separadamente cada uma das cinco cantoras protagonistas do livro, cujo capítulo final, Novas rainhas, aborda cantoras que ganharam visibilidade na roda a partir dos anos 2000, casos de Fabiana Cozza e de Teresa Cristina.
Importante por inexistir biografia de Alcione Dias Nazareth, o perfil da Marrom revela que a cantora maranhense poderia ter saído de cena em 1970, antes de alcançar o sucesso, se tivesse aceitado o convite para integrar grupo que iria fazer shows pelo nordeste do Brasil.
Como estava comprometida com apresentação no programa de calouros A grande chance, comandado pelo apresentador Flávio Cavalcanti (1923 – 1986) na TV Tupi, Alcione teve que recusar o convite para se apresentar pelo nordeste com o grupo, sem saber que a viagem provavelmente lhe seria fatal. É que, numa das etapas da viagem, o avião que saíra do Recife (PE) – e que pegara o grupo na escala em São Luís (MA) – caiu nas proximidades de Belém (PA), matando quase todos os passageiros.
Como escapou da morte (“Foi coisa do destino mesmo. Acabei ganhando a minha grande chance”, avaliou Alcione em entrevista publicada em 1979), a Marrom acabou vencendo a luta pelo reconhecimento profissional após anos de atuação como cantora da noite carioca.
A vitória aconteceu porque, como reitera Leonardo Bruno, Alcione teve que aceitar ser apresentada como “A voz do samba” em 1975 por determinação de Roberto Menescal, então diretor da gravadora Philips.
Criada sob a rígida disciplina familiar, Alcione teve o benefício do incentivo do pai músico, João Carlos Dias Nazareth, para se educar musicalmente. Cantora e instrumentista, hábil no toque do trompete, Alcione jamais se dissociou do samba, mas, aos poucos, provou que a potente voz de contralto poderia ser posta a serviço de todo tipo de música brasileira, inclusive das canções despudoramente românticas tão ao gosto da intérprete.
Já Beth Carvalho sempre fez questão de ser entronizada como uma rainha do samba desde que abraçou o gênero no alvorecer da década de 1970. Das cinco cantoras perfiladas por Leonardo Bruno, a carioca Elizabeth Santos Leal de Carvalho é a que nasceu e cresceu em condições sociais mais favoráveis.
Criada na abastada zona sul do Rio de Janeiro (RJ), Beth abriu alas quando viu luz no fim do Túnel Rebouças – ponte entre as zonas sul e norte da cidade partida – e deu voz ao samba da geração surgida nos fundos dos quintais dos subúrbios cariocas.
Álbum histórico por ter renovado o samba, De pé no chão (1978) norteou a discografia de Beth Carvalho, cantora que soube se impor e se fazer respeitar em quadras também dominadas pelo poder patriarcal. Como lembra Leonardo Bruno, Beth era a única mulher entre 18 homens em foto do encarte do álbum De pé no chão.
No texto sobre Clara Francisca Gonçalves, o autor mostra que a mineira precisou ser guerreira para driblar as regras do patriarcado – ainda mais rígidas para mulheres nascidas e criadas em cidades do interior do Brasil – na vida e no meio musical. Tanto que Clara teve que ir para a imprensa negar o rumor de que tinha caso com o apresentador de TV José Abelardo Barbosa de Medeiros (1917 – 1988), o Chacrinha, somente por aparecer bastante nos programas do Velho Guerreiro.
Ainda assim, como mostra Leonardo Bruno, o suposto acaso ainda reverbera, a ponto de ter sido apresentado como fato em recente filme de ficção sobre Chacrinha.
No caso de Yvonne da Silva Lara, a batalha principal foi travada dentro do círculo familiar. Tanto que a sambista somente passou a se dedicar ao ofício de cantora depois da morte do marido, Oscar Costa, em 1975, após 28 anos de casamento formalizado em 1947.
Antes, Ivone teve que driblar o preconceito de pais e tios para se impor como compositora, mesmo tendo nascido em família de bambas imperiais. Das cinco rainhas do livro, Ivone Lara é a única também identificada como (grande) compositora, criadora de melodias delicadas letradas com versos poéticos por parceiros homens.
A carioca Elza Gomes da Conceição também compõe eventualmente, mas a produção autoral foi abafada pelo poder da voz rouca, amplificada ao longo dos anos 1960 pelo intuitivo dom jazzístico, pela sagacidade e pelo suingue que a credenciou a cair no sambalanço, gênero dominante na discografia de Elza naquele década.
A partir dos anos 2000, Elza alargou o eixo estético da obra fonográfica, até então enquadrada dentro do samba por pressões mercadológicas – salvo uma ou outra tentativa, como a feita no álbum Somos todos iguais, de 1985.
Dura na queda, Elza encarou as adversidade sociais de quem se cria no morro, se engalfinhou com o machismo e combateu o racismo, se tornado a voz de pessoa vitoriosa. Aos 91 anos (idade que o autor diplomaticamente prefere não bancar no perfil da cantora), Elza Soares é entidade que personifica o poder feminino exaltado por Leonardo Bruno ao longo de 416 páginas.
O livro Canto de rainhas, cabe ressaltar, se escora no recorte que conecta as trajetórias de cinco vozes que se fizeram ouvir no patriarcado nacional, sem se deixarem abater pelo machismo. Vozes já eternas que denunciaram o soluçar de dor que ainda ecoa no canto do Brasil." Mauro ferreira (g1.globo.com, 23.12.2021)