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Mordaça - Histórias de música e censura em tempos autoritários

João Pimentel & Zé McGill
Libros: Música

Próximamente disponible

31,51 € impuestos inc.

Ficha técnica Libros

Editorial Sonora Editora
Estilo Música
Año de Edición Original 2021

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336 páginas (16 x 23 cm, ilustrado) (Peso: 495 g)

"O livro reúne alguns dos casos mais emblemáticos sobre o incessante embate entre música e censura, arte e autoritarismo, no Brasil. Escrito a partir de depoimentos exclusivos de alguns dos nomes mais importantes da música brasileira, colhidos pelos autores entre 2018 e 2021, Mordaça é um registro amplo e contundente.
Recheado de personagens marcantes* e casos surpreendentes, dramáticos, trágicos ou até engraçados, mas sempre narrados com uma linguagem leve, o livro demonstra como artistas foram perseguidos e silenciados e como fizeram para burlar os absurdos impostos pela censura.
Nas páginas de Mordaça, histórias de personagens de gerações e gêneros musicais tão distintos quanto Chico Buarque (que explica, por exemplo, como o samba “Apesar de Você”, aprovado por engano, foi o estopim de seus problemas com a Censura nos Anos de Chumbo) e Philippe Seabra (da banda Plebe Rude, que, já no período de abertura política, teve a audácia de escrever uma música intitulada “Censura”); Paulo César Pinheiro (que misturava suas letras às de outros autores da gravadora para conseguir as liberações) e Leo Jaime (que fala sobre sua hilária relação com a censora Solange Hernandes, a Dona Solange); Beth Carvalho (em uma de suas últimas entrevistas) e Jorge Mautner (que conta que, quando esteve preso, os militares tentaram lhe dar LSD como parte de um “experimento”); Geraldo Azevedo (que dá a sua visão sobre o que aconteceu com outro Geraldo, o Vandré, além de relatar as diversas torturas que sofreu enquanto esteve preso pelos militares) e o ex-funcionário da RCA, Genilson Barbosa (que diz como fazia para subornar censores); Gilberto Gil (que compara os censores a guardas de fronteira) e BNegão (que, fazendo uma ponte com o presente, denuncia um caso de censura ao seu show no Mato Grosso do Sul, em 2019).
Muitas vozes saem das páginas deste valioso registro histórico-musical. Vozes que servem como alerta para todas as gerações e que devem ser escutadas em tempos de censura velada ou no caso de a censura oficial voltar a assombrar o Brasil.
*Personagens Marcantes: Chico Buarque, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Ivan Lins, Paulinho Da Viola, Beth Carvalho, Caetano Veloso, João Bosco, Nelson Motta, Carlos Lyra, Marcos Valle, Jards Macalé, Edu Lobo, Ricardo Vilas, Geraldo Azevedo, Joyce Moreno, Solano Ribeiro, Paulo César Pinheiro, Eduardo Gudin, Martinho Da Vila, Leo Jaime, Bnegão, Alceu Valença, Clemente Nascimento, Rildo Hora, Genilson Barbosa, Jorge Mautner, Odair José, Evandro Mesquita, Philippe Seabra, João Carlos Muller."

"João Pimentel é jornalista, escritor e compositor. Foi repórter e crítico musical de O Globo e colunista de O Dia. É autor de obras como: Blocos, Uma História Informal do Carnaval de Rua (Relume Dumará, 2002); Jards Macalé (série Álbum de Retratos, Folha Seca, 2007); Marcados para Viver: A Luta de Cinco Escolas (coleção Cadernos de Samba, Verso Brasil, 2012) e Jorge Aragão - O Enredo de um samba (Sonora Editora, 2016).
Zé McGILL nasceu em Eugene (Oregon, EUA), em 1977, e vive no Rio de Janeiro desde os três meses de idade. É escritor, jornalista e tradutor. Publicou os livros de contos Na Barriga do Boi (7Letras, 2011), além do romance Saquarema Sete Três (Tinta Negra, 2018)."

"A ação insana da censura sobre compositores brasileiros é tema já abordado na bibliografia musical do país, sobretudo em biografias de artistas que militaram ao longo dos anos 1960 e 1970 pela volta da democracia. Há inclusive título elementary dedicado ao assunto, Ecu não sou cachorro, não – Música widespread cafona e ditadura militar (2002), livro que, há 20 anos, projetou o historiador Paulo Cesar de Araújo, autor desse compêndio sobre a ação do autoritarismo brasileiro nas obras dos compositores rotulados como bregas.
Livro lançado em dezembro pela Sonora Editora, Mordaça (2021) remexe no assunto e inventaria a ação da censura na música do Brasil a partir da decretação do AI-5 em 1968, dando voz aos artistas que sofreram com essas ações – e também a nomes que ajudaram a livrar os compositores das garras dos censores.
Não por acaso, na disposição dos 29 capítulos no livro, o primeiro a ser ouvido nas páginas de Mordaça pelos jornalistas João Pimentel e Zé McGill, é João Carlos Müller (1940 – 2021), advogado que, ao longo da década (1966 – 1976) em que atuou no departamento jurídico da gravadora Philips, teve como missão dialogar com os censores para tentar liberar músicas vetadas em discos da companhia fonográfica.
O testemunho de Müller resulta essencial para que o leitor saiba como eram os bastidores da censura, por vezes regidos pelas leis informais das relações (mais ou menos cordiais) entre advogados, censores e censurados.
Cada capítulo do livro dá voz a um nome da música do Brasil. Os 29 capítulos se sucedem em Mordaça após o prefácio A escravidão das ideias – em que Sérgio Augusto lembra que a repressão à arte musical acontece no Brasil desde que o samba é samba – e a apresentação em que os autores do livro historiam ações da censura no Estado Novo, regime ditatorial em vigor entre 1937 e 1946 sob o comando do presidente Getúlio Vargas (1882 – 1954).
Depois de João Carlos Müller, o primeiro nome ouvido em Mordaça é o de Chico Buarque, compositor que se tornou símbolo da luta contra a censura por ter sido perseguido pela máquina repressora da ditadura desde que o samba Apesar de você (1970) escapou do crivo dos censores e foi parar na boca do povo até ter a veiculação vetada em ação já inócua.
Apesar da relevância da exposição de depoimentos exclusivos como os de compositores como Chico Buarque, Jards Macalé, João Bosco, Marcos Valle e Ivan Lins, o livro Mordaça alcança maior valor documental quando direciona o foco para personagens (quase) nunca ouvidos. Como Genilson Barbosa, por exemplo.
Encarregado pela gravadora RCA-Victor de tentar resolver com a censura as proibições de músicas dessa companhia fonográfica, Genilson é categórico ao afirmar que havia suborno dos censores – prática negada com a mesma ênfase por João Carlos Müller.
Já a entrevista de Geraldo Azevedo é especialmente relevante por documentar em livro a tortura sofrida pelo artista, parceiro de Geraldo Vandré na Canção da despedida, música que somente seria gravada em 1983, por Elba Ramalho, à revelia de Vandré.
Ao longo da narrativa de Mordaça, aparecem personagens já lendárias como a ranzinza ex-delegada da Polícia Federal Solange Hernandes (1938 – 2013), censora implacável que se tornou chefe do órgão de repressão entre 1981 e 1984. Morta aos 75 anos, Hernandes está imortalizada pela homenagem prestada por Leo Jaime – um dos entrevistados por João Pimentel e Zé McGill – na música Solange (1985), versão em português de So lonely (1978), música do grupo inglês The Police.
Há no livro depoimentos meramente afetivos, como o de Beth Carvalho (1946 – 2019), cantora militante que nunca sofreu a ação direta da censura por não ser compositora, mas que deu voz a sambas politizados e alinhados com a ideologia de esquerda, como Virada (Noca da Portela e Gilmar Alves Pereira, 1981).
Em contrapartida, ao entrevistar BNegão em capítulo alocado ao fim de Mordaça com o caso de proibição de display feito pelo artista em 2019 com a banda Seletores de Frequência, os autores mostram que, mesmo oficialmente extinta em 3 de agosto de 1988, a censura ainda vigora extraoficialmente.
Essa censura oficiosa é legitimada pela ideologia extremista do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, cujo autoritarismo evoca a technology sombria da ditadura, como enfatizam vários entrevistados ao longo do livro, cujo posfácio é intitulado justamente Censura nos anos Bolsonaro.
Mordaça encerra com mais uma página infeliz da história do Brasil que, espera-se, seja brand virada definitivamente." Mauro Ferreira (g1.globo.com)